Desvendando a Hierarquia do Google Cloud Platform
- Michel Souza Santana
- 30 de set.
- 5 min de leitura
No universo do Google Cloud Platform (GCP), a forma como você estrutura e organiza seus ativos digitais não é apenas uma questão de "arrumar a casa". É um pilar fundamental para a segurança, governança, gestão de custos e escalabilidade de toda a sua operação. Uma hierarquia bem definida é o que separa um ambiente cloud caótico e de alto risco de um ambiente robusto, seguro e otimizado.
Neste artigo, vamos mergulhar na estrutura hierárquica do GCP, detalhando cada um de seus níveis — Organização, Pastas, Projetos e Recursos — e mostrando como essa estrutura se traduz em cenários práticos do dia a dia.
Uma Visão Top-Down
O GCP utiliza uma hierarquia de recursos que se assemelha a uma árvore invertida. No topo, temos a Organização, que se ramifica em Pastas, que por sua vez contêm Projetos, e finalmente, dentro dos projetos, residem os Recursos que sua aplicação utiliza.
A grande vantagem desse modelo é a herança de políticas. Políticas de IAM (Identity and Access Management) e Políticas da Organização (Organization Policies) aplicadas em um nível mais alto da hierarquia são herdadas por todos os níveis inferiores. Isso significa que você pode definir regras de segurança e permissões no nível da Organização ou de uma Pasta, e elas serão automaticamente aplicadas a todos os projetos e recursos abaixo, garantindo consistência e conformidade.

1. O Nó da Organização (Organization)
A Organização é o nó raiz da sua hierarquia no GCP. Ela geralmente está associada ao seu domínio corporativo (ex: suaempresa.com) quando você utiliza o Google Workspace ou o Cloud Identity.
Propósito Principal: Representa a empresa como um todo. É o ponto central para aplicar políticas globais que devem afetar toda a companhia.
Gestão: É aqui que você define os administradores da organização (Organization Admin), que possuem o mais alto nível de permissão sobre todo o ambiente cloud.
Controle: Ideal para aplicar políticas de segurança rígidas, como restringir a localização física de recursos (para conformidade com GDPR, por exemplo) ou definir quais serviços do GCP podem ser utilizados em toda a empresa.
2. Pastas (Folders)
As Pastas são um nível organizacional opcional, mas altamente recomendado, que fica entre a Organização e os Projetos. Elas permitem agrupar projetos que compartilham características comuns.
Propósito Principal: Agrupar projetos por departamento (Marketing, Engenharia, Finanças), ambiente (Produção, Homologação, Desenvolvimento), unidade de negócio ou qualquer outra divisão lógica que faça sentido para sua empresa.
Gestão: Permitem delegar administração. Você pode conceder a um líder de equipe permissões de administrador sobre a pasta de seu departamento, permitindo que ele gerencie os projetos de sua equipe sem ter acesso a outros departamentos.
Controle: Perfeito para aplicar políticas específicas de um grupo. Por exemplo, a pasta "Desenvolvimento" pode ter políticas de IAM mais permissivas para os desenvolvedores, enquanto a pasta "Produção" terá regras de acesso extremamente restritas.
3. Projetos (Projects)
O Projeto é a unidade fundamental onde os recursos do GCP são de fato criados, gerenciados e faturados. É o nível onde você habilita APIs, gerencia o faturamento e organiza os recursos da sua aplicação.
Propósito Principal: Isolar recursos e ambientes. Um projeto pode conter todos os recursos para uma aplicação específica, um microsserviço ou um ambiente completo (como o ambiente de produção do seu e-commerce).
Gestão: Todo recurso no GCP pertence a um único projeto. As permissões de IAM no nível do projeto definem quem pode fazer o quê com os recursos dentro dele.
Controle: O faturamento é atrelado a um projeto. Isso facilita a análise de custos por aplicação, time ou centro de custo. Também é um limite natural para o "raio de explosão" (blast radius): um erro de configuração em um projeto não afeta diretamente os recursos de outro.
4. Recursos (Resources)
Finalmente, os Recursos são os componentes que compõem os seus serviços: máquinas virtuais (Compute Engine), bancos de dados (Cloud SQL, Spanner), buckets de armazenamento (Cloud Storage), tópicos do Pub/Sub, etc.
Propósito Principal: São os serviços e objetos que você efetivamente utiliza para rodar suas aplicações e armazenar seus dados.
Gestão: A gestão é feita dentro do escopo de um projeto. Cada recurso herda as políticas do projeto, da pasta e da organização onde está contido. Você também pode aplicar políticas de acesso mais granulares diretamente em recursos específicos, quando necessário.
Criando um Projeto dentro de uma Estrutura
Vamos ver como isso funciona na prática. Suponha que você queira criar um novo projeto para um chatbot de atendimento (chatbot-prod) dentro da pasta do departamento de "Engenharia" (engineering-folder).
Primeiro, você precisaria do ID da sua Organização e do ID da Pasta. Você pode listá-los com os seguintes comandos do gcloud:
# Listar sua Organização
gcloud organizations list
# Listar pastas dentro da sua Organização (substitua ORGANIZATION_ID)
gcloud resource-manager folders list --organization=ORGANIZATION_ID
Com o ID da pasta "Engenharia" em mãos (ex: 123456789012), você pode criar o projeto:
# Criar um novo projeto dentro da pasta especificada
gcloud projects create chatbot-prod-project-id \
--name="Chatbot - Producao" \
--folder=123456789012
# Opcional: Vincular uma conta de faturamento ao novo projeto
gcloud beta billing projects link chatbot-prod-project-id \
--billing-account=BILLING_ACCOUNT_ID
Este script simples demonstra como a hierarquia é reforçada até mesmo na linha de comando, garantindo que o novo projeto seja criado no local correto e herde automaticamente as políticas da pasta "Engenharia".
Casos de Uso em Cenários Reais
A teoria é importante, mas como essa estrutura se aplica no mundo real?
Cenário 1: Grande Empresa de Varejo
Organização: varejista.com
Pastas: "E-commerce", "Lojas Físicas", "Logística", "Dados & Analytics".
Projetos: Dentro da pasta "E-commerce", poderíamos ter projetos como ecommerce-prod-frontend, ecommerce-prod-backend, ecommerce-dev-backend. Cada projeto tem seu próprio ciclo de vida e centro de custo, mas todos herdam as políticas de segurança da pasta "E-commerce", que garantem conformidade com o PCI para pagamentos online.
Cenário 2: Startup de Tecnologia
Organização: minhastartup.io
Pastas: "Produção", "Desenvolvimento". Uma estrutura mais simples, mas eficaz.
Projetos: Na pasta "Desenvolvimento", cada desenvolvedor pode ter seu próprio projeto "sandbox" para experimentar livremente, com políticas de baixo custo (ex: apenas tipos de máquinas pequenas são permitidos). A pasta "Produção" contém os projetos críticos (webapp-prod, database-prod) com acesso altamente restrito e monitoramento intensivo.
Cenário 3: Consultoria de Dados
Organização: consultoriadedados.com
Pastas: Uma pasta para cada cliente ("Cliente A", "Cliente B").
Projetos: Dentro da pasta "Cliente A", existiriam projetos como cliente-a-data-lake, cliente-a-data-warehouse, cliente-a-dashboards. Isso garante total isolamento dos dados e custos entre os clientes. As políticas de IAM na pasta "Cliente A" garantiriam que apenas os consultores alocados para aquele projeto (e o próprio cliente) pudessem acessar os recursos.
Investir tempo no planejamento da sua hierarquia de recursos no GCP é uma das decisões mais estratégicas que você pode tomar. Ela é a fundação sobre a qual você construirá uma arquitetura de nuvem segura, governável e pronta para escalar junto com o seu negócio.




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